Introdução: O Fim da Lógica Geográfica do CFOP
Se você desenvolve software fiscal no Brasil, o CFOP (Código Fiscal de Operações e de Prestações) é a espinha dorsal das suas regras de negócio. Há décadas, o seu ERP decide tributação baseando-se em: Origem x Destino e Regime do ICMS (5.102, 6.102, 5.405…), com a Reforma Tributária, essa lógica morreu.
O novo sistema (IBS e CBS) não se importa se a venda é intermunicipal ou interestadual. A tributação passa a ser no destino e baseada no tipo da operação e na classificação do produto/serviço, e não mais na geografia do emissor. É aqui que nasce o CFX (Código Fiscal Expandido) e a necessidade urgente de refatorar a arquitetura fiscal do seu software.
Neste artigo, vamos dissecar tecnicamente o que é o CFX, como ele difere do novo campo oficial cClassTrib e como preparar o banco de dados do seu ERP para essa transição.
O que é o CFX (Código Fiscal Expandido)?
O CFX não é (ainda) um campo oficial da Nota Técnica da SEFAZ, mas sim um padrão de mercado proposto por um grupo de trabalho de grandes empresas de software e contabilidade (incluindo players como SacFiscal e Unimake) para preencher o vácuo deixado pelo CFOP.
Enquanto o CFOP mistura Operação (Venda) com Tributação (Substituição Tributária/ICMS), o CFX propõe uma estrutura modular e semântica, desvinculada do ICMS.

A Diferença Crucial: CFX vs. cClassTrib
Muitos desenvolvedores estão confundindo os conceitos. Vamos separar o que é obrigação acessória do que é arquitetura de sistema:
- cClassTrib (Código de Classificação Tributária): Este é o campo OFICIAL do governo para a Reforma (NT 2024.001 e suas evoluções). Ele identifica o tratamento tributário do item perante o IBS/CBS (ex: Cesta Básica, Imunidade, Regime Específico). É o que vai no XML.
- CFX (Padrão de Negócio): É a estrutura lógica interna que o seu ERP deve adotar para descobrir qual
cClassTribenviar. Ele substitui a lógica antiga onde o usuário selecionava o CFOP manualmente.
Resumo Técnico: O CFX é a regra de negócio interna; o
cClassTribé o payload do XML.
Estrutura e Lógica do CFX
A proposta do CFX é limpar a ambiguidade. Hoje, um CFOP 5.102 pode significar dezenas de tratamentos fiscais diferentes dependendo do NCM ou do estado do cliente.
O padrão CFX sugere classificar a operação pelo seu propósito real, independente do tributo. A estrutura visa atender:
- Operações de Circulação: Venda, Transferência, Devolução.
- Operações de Serviço: Prestação onera, gratuita, etc.
- Natureza da Mercadoria: Material de uso/consumo, ativo, revenda.
Ao adotar o CFX internamente, seu sistema deixa de perguntar “Qual o CFOP?” e passa a perguntar “Qual a Operação?”. O sistema então cruza Operação (CFX) + Produto (NCM/Lista de Serviço) para determinar automaticamente o CST e o cClassTrib corretos para o XML.
Implementação Prática: O Que Mudar no ERP
Para preparar seu software (Delphi/Lazarus/C#) para 2026 (início da transição), você deve considerar as seguintes alterações no banco de dados e na interface:
- Tabela de Operações Fiscais: Crie uma nova entidade ou expanda sua tabela de “Naturezas de Operação”. Não dependa mais da chave primária do CFOP. Crie um campo para o Código CFX ou um identificador interno similar.
- Mapeamento de/para:
- Durante a transição (2026-2032), você precisará conviver com os dois mundos.
- Crie uma matriz:
CFX (Operação Real) -> Sugere CFOP (Legado) + Sugere cClassTrib (Novo).
- Interface do Usuário (PDV/Faturamento):
- O usuário não deve mais ver “5.102 – Venda de Mercadoria…”. Ele deve ver apenas “Venda Varejo”. O backend resolve a complexidade.
- O CFX facilita a integração com Meios de Pagamento (TEF/POS), que exigirão identificar o tipo de operação para aplicar o Split Payment corretamente.
Por que adotar um padrão de mercado?
Você pode criar sua própria codificação interna, mas adotar um padrão como o CFX (ou basear-se nele) traz vantagens de interoperabilidade:
- Contabilidade: Se o escritório contábil do seu cliente usa sistemas preparados para o CFX, a importação de dados e a auditoria ficam transparentes.
- Manutenção: Seguir a “Wiki” de um padrão comunitário reduz o esforço de especificação da sua equipe de análise.
- Validação: O padrão está sendo lapidado por especialistas que estão acompanhando cada vírgula da Lei Complementar.
Conclusão e Próximos Passos
Não espere a SEFAZ publicar uma regra de validação rejeitando notas para agir. A “morte” do CFOP é conceitual e afeta a inteligência do seu software.
- Estude a NT do IBS/CBS: Entenda os campos
cClassTrib,CSTe grupos de tributação. - Acesse a documentação do CFX: Acompanhe o site
codigocfx.com.bre os materiais da Unimake/SacFiscal para ver a tabela de códigos sugerida. - Refatore agora: Comece a desacoplar seu código da dependência geográfica do ICMS.
A Reforma Tributária é o maior reset técnico da história da automação comercial brasileira. Quem continuar pensando em “5.405” vai ficar para trás.
Referências
CÓDIGO CFX. Código CFX: Padrão Fiscal de Operações. Disponível em: https://www.codigocfx.com.br/.
SACFISCAL. O novo padrão fiscal de operações. Blog SacFiscal. Disponível em: https://www.blog.sacfiscal.com.br/o-novo-padrao-fiscal-de-operacoes/.
